Manuel Olívio da Rocha, um gafanhão, já há muitos anos radicado no Porto, recorda com "graça" as suas brincadeiras de infância, passada na Gafanha da Nazaré, junto da Ria.
Postal: Cambeia e Farol em 1927
"De pedra em pedra, saltávamos, quando brincávamos na Ria.
Se queríamos atravessar um rego mais fundo, para não molhar os fundilhos das calças, qual era a solução? Saltar de pedra em pedra.
Mas quando acontecia irmos, de pedra em pedra, em busca de larotes, de camarão e, por vezes, de uma enguiazita. Que festa! Com todo o cuidado, as mãos avançavam e, de repente, zás! : – Ó tu, apanhei mais um!
E agora me lembro que palmilhávamos toda uma «praia», e, ainda de pedra em pedra, mas para as virar e, com a respiração suspensa, aguardar o safio que saía de lá debaixo.
Ah!, meus amigos, acreditai que era o melhor desporto que me podiam oferecer – o esperar que a maré descesse, o avançar cauteloso, o virar a pedra e, com agilidade, tentar agarrar o peixito que se esgueirava. Depois, chegar a casa e a Mãe regalar o gato com a nossa rica pescaria! Ele era cada uma!
Mas ir de pedra em pedra, por vezes era sinal de toda uma janela sem vidros. Este «desporto» é que nunca foi do meu agrado – sê-lo-á para alguém? Mas, um dia – diz a história que «há sempre um dia» -, indisposto com um galo que fugiu do capoeiro, peguei numa caliça e, trás!, lá se foi o vidro da Mercília! Ah, «coça abençoada»! Coitado de mim. E o galo, cá! cá! cá!, ainda parecia estar a fazer troça! Ai, ele é isso?! Espera… O que te ‘safou’ foi não haver mais pedras…"
Mas quando acontecia irmos, de pedra em pedra, em busca de larotes, de camarão e, por vezes, de uma enguiazita. Que festa! Com todo o cuidado, as mãos avançavam e, de repente, zás! : – Ó tu, apanhei mais um!
E agora me lembro que palmilhávamos toda uma «praia», e, ainda de pedra em pedra, mas para as virar e, com a respiração suspensa, aguardar o safio que saía de lá debaixo.
Ah!, meus amigos, acreditai que era o melhor desporto que me podiam oferecer – o esperar que a maré descesse, o avançar cauteloso, o virar a pedra e, com agilidade, tentar agarrar o peixito que se esgueirava. Depois, chegar a casa e a Mãe regalar o gato com a nossa rica pescaria! Ele era cada uma!
Mas ir de pedra em pedra, por vezes era sinal de toda uma janela sem vidros. Este «desporto» é que nunca foi do meu agrado – sê-lo-á para alguém? Mas, um dia – diz a história que «há sempre um dia» -, indisposto com um galo que fugiu do capoeiro, peguei numa caliça e, trás!, lá se foi o vidro da Mercília! Ah, «coça abençoada»! Coitado de mim. E o galo, cá! cá! cá!, ainda parecia estar a fazer troça! Ai, ele é isso?! Espera… O que te ‘safou’ foi não haver mais pedras…"
In: Boletim Cultural da Gafanha da Nazaré N.º 1 - 1.º Semestre de 1985 - Ano I.
Sem comentários:
Enviar um comentário