domingo, 20 de abril de 2008

Aveiro: Sal à beira da protecção europeia

O sal de Aveiro, a par com o salgado de três países, pode estar a um passo de ser reconhecido com a Indicação Geográfica Protegida e Denominação de Origem Protegida. A Associação de Produtores e Marnotos da Ria de Aveiro tem também em mente um plano para aumentar a produção de sal tradicional para as 10 toneladas por ano.


O sal de Aveiro e outros salgados de três países estão à beira de conseguir o reconhecimento de Indicação Geográfica Protegida (IGP) e de Denominação de Origem Protegida (DOP), no seguimento da votação favorável, na passada quinta-feira, por unanimidade, pelos 27 estados membros da União Europeia, da inserção daquele produto tradicional no anexo ao Regulamento 510/ 2006 da Comissão sobre a IGP e a DOP.
A partir daqui, os produtores terão de preparar os cadernos de encargos onde serão descritas as características do sal e da produção de forma a solicitar o seu registo em Bruxelas.
A decisão ao nível europeu surge no seguimento de um requerimento apresentado, em Maio do ano passado, pelos produtores de sal marinho artesanal de França, Itália, Espanha e Portugal, junto da Direcção Geral da Agricultura da Comissão Europeia, que tinha em vista permitir aos diferentes sais marinhos recolhidos manualmente beneficiar dum reconhecimento como IGP/DOP.
A decisão dos 27 estados membros abre «a via à protecção dos sais pela indicação geográfica na União Europeia» segundo refere um comunicado dos quatro países produtores, reunidos na Federação Europeia dos Produtores de Sal Marinho Recolhido Manualmente. Depois de conhecida a decisão, o presidente da federação, Michel Coquard, conclui que será possível «apresentar os processos de registo em Bruxelas e, por consequência, proteger e valorizar os produtos oferecendo aos consumidores as garantias da origem e da qualidade».
Quanto fala no sal tradicional recolhido manualmente, o presidente refere-se a uma «história e características próprias e uma ligação muito forte com os locais de onde provêm».
Na prática, obtendo o selo de certificação do produto, «ninguém pode rotular como sendo sal de Aveiro sal que não seja da região e da maneira como é produzido», disse ontem, ao Diário de Aveiro, o presidente da Associação de Produtores e Marnotos da Ria de Aveiro (APMRA), Manuel Estrela Esteves.
E «como Aveiro não tem sal industrial, só o artesanal pode ter o estatuto de sal de Aveiro», acrescenta. Além da associação aveirense, são membros fundadores da Federação Europeia dos Produtores de Sal Marinho Recolhido Manualmente a Association Espagnole de Salinas Marinas Artisanales - AESMAR, a Association Française des Producteurs de Sel Marin de l’Atlantique récolté manuellement, o Consorzio per la Valorizzazione del Sale MARino di Trapani - SMART e a Federação Nacional de Produtores de Sal Marinho Artesanal – FENA.Sal (Tradisal de Castro Marim e APMRA de Aveiro).
Actualmente, o que está a acontecer é a importação de sal, «embalado em Aveiro e tido como sal de Aveiro», segundo o presidente da APMRA. Com a certificação da produção, o cenário deverá mudar, o que pode sugerir a possibilidade do sal de Aveiro ganhar mercado. Mas para Manuel Estrela Esteves será necessário, primeiro, «aumentar a produção». E a associação tem um plano para conseguir isso.

Plano de 50 marinhas

Enquanto a associação prepara a convocação dos produtores para iniciarem a preparação dos cadernos de encargos, e admite vir a apelar para a APMRA conseguir certificar as produções de Aveiro, apoiada pelo laboratório da Universidade de Aveiro, a organização tem um plano para conseguir elevar a quantidade da produção de sal em cada safra.
Está em curso a reabilitação de três núcleos incluídos na zona do salgado de Aveiro, constituídos por 50 marinhas, que podem ser activadas através de obras de protecção da envolvência de cada grupo. A associação pretende que o plano de actividades do novo Programa Polis para a Ria inclua aquela obra de protecção dos núcleos de marinhas, reconstruindo os muros de protecção em redor das salinas em causa, que poderá atingir uma produção anual de 10 mil toneladas.
Contemplando aqueles núcleos nas obras do Polis, cujo plano a APMRA já abordou com a Administração da Região Hidrográfica do Centro, será depois necessário os proprietários de marinhas realizarem obras de recuperação nas suas propriedades, se for caso disso, podendo beneficiar de apoios financeiros.
Mas não é apenas o aumento da quantidade de sal que está em causa. Para Estrela Esteves, a certificação impõe o cumprimento de características quanto à qualidade da água. Neste ponto, há dois aspectos a ter em conta, que constituem «ameaças graves»: a poluição decorrente da actividade portuária e a expansão da piscicultura.

Fonte: Diário de Aveiro.

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