Inauguração de exposição - Dia 03 de Maio, Sábado, às 17h00.
Exposição patente até 20 de Julho.
Segundo, Mário Ruivo - Biólogo
Quando folheei pela primeira vez o livro de Isabelle Lebastard (Poemas) e de Brigitte d’Ozouville (Fotografias), para além da transcendência das imagens impressionou-me o quebrar das barreiras culturais que representa. Produto desta nova Europa em que as identidades tradicionais se integram com a vivência num espaço cultural vasto que ultrapassa fronteiras, onde se manifestam as sensibilidades individuais agora desinibidas da ortodoxia dicotómica entre “nós” e os “outros”.
Francesas, investigadoras e mães de família, como elas próprias se apresentam, Isabelle Lebastard e Brigitte d’Ozouville só se encontraram em Portugal, seu “país de adopção”, atraídas ambas pela luz e pela língua que aqui descobriram. É essa luz e essa língua – é esse sentir - que as autoras nos devolvem nesta obra centrada sobre o mar e o litoral. O título, “Destino de Peixe”, desperta-me lembranças pessoais: nasci em Março sob o signo dos peixes e é nos mistérios do mar que tenho andado embrenhado. A todos, por certo, abre-nos as portas da imaginação: os barcos abandonados nos sapais, as redes como espuma ao vento, o céu e os mares azuis a perderem-se no horizonte.
Na complementaridade dos seus Poemas e Fotografias, as autoras transmitem-nos um olhar pleno de intimidade sobre um Portugal que os que aqui nascemos, tendemos muitas vezes a ignorar. Um olhar que é ao mesmo tempo poético e antropológico, pictural e sentimental. Não um simples retrato, afinal, mas uma procura sensível deste país e da memória histórica da sua atitude em face do “Mar – Oceano” em contraponto com o destino – o destino do peixe e o destino do homem que se cruzam: “Rezem para que as almas os pescadores regressem”, “… peixes cujas almas fogem a voar.” “História familiar” do peixe–alimento e do peixe–imaginário. Visão patente nos pratos de cerâmica decorativa que trazem o mar e o peixe para o quotidiano das nossas casas. As meta-fotografias de Brigitte d’Ozouville mostram-nos múltiplas dimensões desta realidade e revelam-na nas abstracções das tintas usadas pelo tempo e pela salsugem ou no entrelaçado das redes modelando a dinâmica das vagas. Universo marcado pela presença do homem como deus ex-machina, o braço que controla a chave do mundo tecnológico em que o pescado se empilha nas “…caixas metálicas bem fechadas”, nas palavras de Isabelle Lebastard.
Vem-me à mente, a propósito, uma reflexão da minha saudosa amiga Elizabeth Mann Borgese, num trabalho sobre o oceano planetário a que estivemos associados e já muito distante no tempo quando acentua que “Só o homem deixou marcas indeléveis da forma como a sua inteligência interpreta o mar e como o mar influi em si e na sua vida, o seu pensamento e a sua concepção do mundo”...
Fonte: Museu Marítimo de Ílhavo.
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